terça-feira, fevereiro 02, 2010

Essa semana passei na livraria e de repente folheei um livro de contos do Rubem Fonseca. Sempre gostei da escrita do Rubem e há tempos não lia nada dele. Eis que começo a ler um conto do livro "Ela e outras mulheres", mais que depressa senti que precisava comprar o livro e, de fato, o comprei. Segue então o conto que me fez adquirir o livro, um conto aliás bastante intimista, ao meu ver.


Ela


Na cama não se fala de filosofia.

Peguei na mão dela, coloquei sobre meu coração, disse, meu coração é seu, depois pus sua mão sobre minha cabeça e disse, meus pensamentos são seus, moléculas do meu corpo estão impregnadas com moléculas do seu.

Depois botei a mão dela no meu pau, que estava duro, disse, é seu esse pau. Ela nada disse, me chupou, depois chupei sua boceta, ela veio por cima de mim, fodemos, ela ficou de joelhos, rosto no travesseiro, penetrei por trás, fodemos.

Fiquei deitado e ela de costas pra mim sentou-se sobre meu púbis, enfiou meu pau na boceta. Eu via meu pau entrando e saindo, via o cu rosado dela, que depois lambi. Fodemos, fodemos, fodemos. Gozei como um animal agonizando.

Ela disse, te amo, vamos viver juntos. Perguntei, não está tão bom assim? Cada um no seu canto, nos encontramos para ir ao cinema, passear no Jardim Botânico, comer salada com salmão, ler poesia um para o outro, ver filmes, foder. Acordar todo dia, todo dia, todo dia juntos na mesma cama é mortal.

Ela respondeu que Nietzsche disse que a mesma palavra amor significa duas coisas diferentes para o homem e para a mulher. Para a mulher amor exprime renúncia, dádiva. Já o homem quer possuir a mulher, tomá-la, a fim de se enriquecer e reforçar seu poder de existir.

Respondi que Nietzsche era um maluco. Mas aquela conversa foi o início do fim. Na cama não se fala de filosofia.


Rubem Fonseca, agosto de 2006.