quinta-feira, outubro 08, 2009

"Por um mínimo de respeito para com o artista sergipano"

Assim intitula-se a carta de repúdio escrita por Alessandro Santana, artista visual ,que atua na área do audiovisual em Sergipe. Ele, assim como muitos dos produtores artísticos do estado, ficaram indignados (mais uma vez) pelo descaso como foi tratado o artista sergipano no Curta-SE (considerado o maior festival na área de audiovisual no estado). Segue abaixo a carta feita por ele e publicada no jornal Cinform semana passada:

"Sergipanos são os cidadãos brasileiros, nascidos em Sergipe, menor estado da
federação. Faço parte desta classificação. Nasci, cresci, vivo em Sergipe e produzo Arte.
Atualmente, venho observando com uma mórbida atenção alguns sinais de descaso para com o
artista sergipano. O (mal)dito artista sergipano, este que fazem questão de louvar por essas
bandas, é tratado em sua terra com descaso.

O Festival Ibero-americano de cinema de Sergipe, Curta-se, promovido pela casa curta-se, mais uma vez se mostra desrespeitoso para com o realizador sergipano. Desde a sua primeira edição, acompanho o festival. Trabalhei em um dos filmes exibidos no primeiro festival e estou aqui novamente participando da 9ª edição como realizador, e percebi que, desde a publicação das obras selecionadas para esta última edição do festival, coisas estranhas têm acontecido. O curta-se continua mal em sua organização. Longe de ser um festival firme e maduro com seus 9 anos de existência, continua repetindo erros primários de produção. O que podemos esperar de um festival sergipano que não dá o devido respeito ao realizador sergipano? (e com o publico também).

Dito isto, vamos aos casos: Assim que recebi um e-mail pra ir retirar minha credencial na
casa curta-se, lá vem o primeiro erro: meu sobrenome trocado na lista de circulação interna para controle das credenciais. Até aí, tudo bem. Um pedido de desculpas resolve o problema. No primeiro dia da mostra de filmes sergipanos, somente um dos vídeos propostos para a mostra foi exibido, com defeito nos créditos e a mostra de vídeos sergipanos acabou-se aí. Os artistas sergipanos não tiveram seus filmes exibidos, assim como o público que compareceu a fim de apreciar a produção local foram desrespeitados. Na segunda mostra, ocorreu uma coisa que mexeu particularmente com a minha pessoa: senti-me desrespeitado, primeiramente por não ter sido mencionado na abertura da segunda noite, assim como também pela não inclusão do título do meu vídeo na cédula para votação do júri popular. Era como se eu não estivesse ali, ou como se, simplesmente o vídeo não existisse. Sim, eu me senti marginalizado. Não que eu estivesse fazendo questão de ganhar algum prêmio, mas simplesmente pela falta de organização (e consequente respeito) do festival para com o meu trabalho, assim como os dos realizadores que teriam seus trabalhos exibidos na primeira mostra (que só exibiu um dos quatro vídeos programados). Pois bem, vou ser bastante ingênuo ao crer, que pelo tipo de vídeo que eu faço (me dedico inteiramente aos vídeos ditos experimentais), que a produção teria esquecido exatamente da minha obra no momento de digitar a ficha pois não lembraram da estorinha que o meu vídeo contava, ou talvez o título seja muito grande e deu preguiça. Uma outra leitura do fato se resume em uma simples palavra: incompetência. Ah, esse mal que assola esta cidade.

O mesmo vídeo em questão, (Desconforto ou qualquer título que lhe caia melhor;
experimental, 15:18 min) também foi selecionado para outro festival em Sergipe, o “curta na
TV” da fundação Aperipê, onde a fundação, EM CONTRATO, se predispunha a premiar com
100 cópias à cada realizador dos vídeo selecionado. Até hoje espero essas cópias, embora agora sem mais nenhuma esperança, pois pelo que eu tenho ouvido por aí, a Aperipê está contendo despesas (e o caso desses vídeos, suponho que não os interessem mais, a partir do momento em que o realizador sergipano, que deveria por direito ter o seu devido reconhecimento, apoio e respeito pela sua contribuição à cultura local (que não é somente feita de folclore / cultura popular), e sim toda e qualquer manifestação artística produzidas aqui nesta província. Nestes dois casos me sinto me sinto desrespeitado enquanto artista e sergipano que sou, concluindo aqui com algumas perguntas intrigantes: É desta forma que se apóia e valoriza a cultura local? O que finalmente resta para o artista sergipano?"

Alessandro Santana, artista sergipano.